quinta-feira, 13 de março de 2008

Paul Edwards, "Objecções ao Argumento Cosmológico"

«Será o argumento cosmológico bem sucedido? Isso dependerá sobretudo da plausibilidade da premissa que afirma que uma série causal infinita é impossível. S. Tomás de Aquino defende esta premissa afirmando que a crença oposta é simplesmente absurda, já que a implicação lógica de supor que existe uma série causal infinita será a de que nada existe actualmente; mas nós sabemos que inúmeras coisas realmente existem actualmente; por isso, qualquer teoria que aceite esta implicação lógica terá que estar errada.
Vamos agora considerar uma série causal e referir os seus membros usando letras do alfabeto:

A → B … W → X → Y → Z

Z representa alguma coisa actualmente existente, por exemplo, Cavaco Silva. Y representa a causa ou parte da causa de Z, o pai de Cavaco Silva. X designa a causa ou parte da causa de Y, ou seja o avô de Cavaco Silva. Ora, S. Tomás de Aquino pensa que sempre que eliminamos uma causa, também eliminamos o efeito: se o pai de Cavaco Silva nunca tivesse nascido, Cavaco Silva nunca teria nascido. Se o avô de Cavaco Silva nunca tivesse nascido, o pai de Cavaco Silva e este nunca teriam nascido. Se A nunca tivesse existido, nenhum dos membros subsequentes da série causal teria chegado à existência. Mas o que os defensores da série causal infinita estão a “retirar” é precisamente A, pois ao afirmar que a série causal é infinita está-se apenas a negar que tem um primeiro membro; está-se a negar que exista uma coisa como a primeira causa; por outras palavras, está-se a negar a exisitência de A. Uma vez que sem A, Z não poderia existir, a sua posição implica que Z não existe, mas isso é simplesmente falso.
Este argumento não consegue fazer justiça ao defensor da série causal infinta. S. Tomás de Aquino falhou por não distinguir entre as duas afirmações:

(1) A não existiu, e
(2) A não é causado.

Dizer que a série causal é infinita implica (2), mas não implica (1). A anlogia seguinte pode ser útil aqui: Suponha que o Eusébio havia dito “Sou o maior futebolista de todos os tempos” e que alguém respondia “Não, não és”. Esta resposta estaria a negar que o Eusébio possuía o atributo que reclamou para sí próprio, mas não estaria a negar a sua existência. Não equivale a “retirá-lo” da série causal, da mesma forma que quem acredita na série causal infinita não está “a retirar A”. Está apenas a retirar o estatuto priveligiado de A; está a retirar a ideia de que é “causa primeira”. Não está a negar a existência de A ou de qualquer membro particular da série causal. Está a negar que A ou qualquer outro membro seja o primeiro da série. Uma vez que não implica retirar A, também não implica retirar B, e também não implica retirar X, Y e Z. Logo, a sua perspectiva não o compromete com o absurdo de que nada existe, ou mais especificamente, que, por exemplo, Cavaco Silva não existe actualmente. Por outro lado, deve sublinhar-se que quem acredita numa série causal infinita não está necessariamente a negar a existência de seres sobrenaturais. Está apenas a comprometer-se com a negação da tese de que um tal ser, a existir, seja incausado. Está apenas a comprometer-se com a ideia de que quaisquer que sejam os atributos extraordinários que um ser sobrenatural possa ter, o atributo de ser causa primeira não faz parte deles.
O argumento causal está aberto a diversas objecções. Assim, mesmo que seja válido, não prova a existência de uma causa primeira única, pois parece não haver boas razões para supor que todas as diversas séries causais existentes no universo acabem por se fundir num primeiro membro. Assim, mesmo que se aceite que nenhuma série causal possa ser infinita, a possibilidade de existir uma pluralidade de primeiros membros não está posta de lado. Para além disso, o presente argumento não estabelece a existência presente de um primeiro membro. Não prova isto, uma vez que a experiência mostra claramente que um efeito pode continuar a existir mesmo que a sua causa tenha sido destruida.»


Paul Edwards, “Objections to cosmological arguments” in Davies, Brian (2000). Philosophy of Religion – a guide and anthology. New York: Oxford University Press, pp. 202-3 (Traduzido e adaptado por Vítor João Oliveira)

5 comentários:

Leandro disse...

Muito bom. Alguém conhece aí um site onde haja pdfs dos livros do Paul Edwards?

Leandro disse...

Muito bom. Alguém por aí conhece algum site onde haja "pdfs" de livros do Paul Edwards?

Leandro disse...

Ótimo texto. Alguém por aí conhece algum site onde haja "pdfs" de livros do Paul Edwards?

Leandro disse...

Ótimo texto. Alguém por aí conhece algum site onde haja "pdfs" de livros do Paul Edwards?

Leandro disse...

Ótimo texto. Alguém por aí conhece algum site onde haja "pdfs" de livros do Paul Edwards?