(b) O Argumento Moral Exemplar
Muitas pessoas, entre as quais o ilustre filósofo Immanuel Kant, acreditavam que uma acção moral correcta consistia em escolher um acto tal que pudesse servir de exemplo de conduta para toda a humanidade. (Foi Kant quem reconheceu que a conduta humana é essencialmente exemplar.) Alguns pacifistas universais remetem para esta ideia, defendendo que se todos fossem pacifistas, o mundo seria um lugar melhor do que é agora. Este é o argumento que L. Tolstoi (1827-1910) usou para defender a prescrição do Evangelho para não resistir ao mal:
[Cristo] coloca a proposição da não-resistência de uma forma tal que, de acordo com os seus ensinamentos, tem que ser o fundamento da vida comum dos homens e da libertação da humanidade do mal que ela infligiu a si própria. (A Minha Religião, Cap. 4) Em vez de basear toda a vida na violência e de através dela obter e manter toda a alegria; em vez de ver cada um de nós a ser punido ou a punir desde a infância à velhice, imagino que todos teríamos impressa a palavra e a acção que vê a ideia de vingança como um sentimento animal bastante baixo; que a violência não é apenas um acto infame, mas um acto que priva o homem da verdadeira felicidade…
Imagino que, em vez dos ódios nacionais impressos em nós sob a forma de patriotismo, em vez daquelas glorificações da morte, a que chamamos guerras… todos teríamos impresso a ideia de que o reconhecimento de qualquer país, leis especiais, terras, é um sinal de ignorância grosseira…
Através da realização desses comandos, a vida do homem será o que cada coração humano procura e deseja. Todos os homens serão irmãos e todos estarão sempre em paz uns com os outros, apreciando todos os benefícios do mundo. (A Minha Religião, Cap. 6)
Poucos negarão que se todos fôssemos pacifistas, o mundo seria um lugar melhor, talvez até o paraíso. Para além disso, uma vez que o argumento é essencialmente hipotético, não pode ser refutado (como acreditam muitos não-pacifistas) referindo que nem todos se tornarão pacifistas. O problema consiste em saber se este argumento pode estabelecer o pacifismo como um imperativo moral.
Uma dificuldade deste argumento é que parece assentar na verdade de uma premissa que é puramente analítica. De que forma seria o mundo um lugar melhor se todas as pessoas parassem de lutar? A forma mais óbvia é que o mundo seria melhor porque não haveria guerra. Mas a afirmação “Se todos parassem de lutar, não haveria guerra” é verdadeira por definição, uma vez que “guerra” implica “lutar”. É difícil ver como uma afirmação que apenas relaciona o significado das palavras nos pode dizer alguma coisa sobre as nossas obrigações morais.
O problema maior do argumento de Tolstoi é que obedecer a “não resistir ao mal” não é única forma que conduziria ao paraíso. Suponha-se que qualquer pessoa no mundo subscrevia o princípio “recorre à violência, mas sempre em auto-defesa”. Se todos recorressem à violência apenas em caso de auto-defesa, seguir-se-iam as mesmas consequências da aceitação universal da regra “nunca recorras à violência”. Em consequência, o pacifismo não pode considerado superior ao não-pacifismo por indicar as boas consequências que inegavelmente ocorreriam se todos fossem pacifistas.
Muitas pessoas, entre as quais o ilustre filósofo Immanuel Kant, acreditavam que uma acção moral correcta consistia em escolher um acto tal que pudesse servir de exemplo de conduta para toda a humanidade. (Foi Kant quem reconheceu que a conduta humana é essencialmente exemplar.) Alguns pacifistas universais remetem para esta ideia, defendendo que se todos fossem pacifistas, o mundo seria um lugar melhor do que é agora. Este é o argumento que L. Tolstoi (1827-1910) usou para defender a prescrição do Evangelho para não resistir ao mal:
[Cristo] coloca a proposição da não-resistência de uma forma tal que, de acordo com os seus ensinamentos, tem que ser o fundamento da vida comum dos homens e da libertação da humanidade do mal que ela infligiu a si própria. (A Minha Religião, Cap. 4) Em vez de basear toda a vida na violência e de através dela obter e manter toda a alegria; em vez de ver cada um de nós a ser punido ou a punir desde a infância à velhice, imagino que todos teríamos impressa a palavra e a acção que vê a ideia de vingança como um sentimento animal bastante baixo; que a violência não é apenas um acto infame, mas um acto que priva o homem da verdadeira felicidade…
Imagino que, em vez dos ódios nacionais impressos em nós sob a forma de patriotismo, em vez daquelas glorificações da morte, a que chamamos guerras… todos teríamos impresso a ideia de que o reconhecimento de qualquer país, leis especiais, terras, é um sinal de ignorância grosseira…
Através da realização desses comandos, a vida do homem será o que cada coração humano procura e deseja. Todos os homens serão irmãos e todos estarão sempre em paz uns com os outros, apreciando todos os benefícios do mundo. (A Minha Religião, Cap. 6)
Poucos negarão que se todos fôssemos pacifistas, o mundo seria um lugar melhor, talvez até o paraíso. Para além disso, uma vez que o argumento é essencialmente hipotético, não pode ser refutado (como acreditam muitos não-pacifistas) referindo que nem todos se tornarão pacifistas. O problema consiste em saber se este argumento pode estabelecer o pacifismo como um imperativo moral.
Uma dificuldade deste argumento é que parece assentar na verdade de uma premissa que é puramente analítica. De que forma seria o mundo um lugar melhor se todas as pessoas parassem de lutar? A forma mais óbvia é que o mundo seria melhor porque não haveria guerra. Mas a afirmação “Se todos parassem de lutar, não haveria guerra” é verdadeira por definição, uma vez que “guerra” implica “lutar”. É difícil ver como uma afirmação que apenas relaciona o significado das palavras nos pode dizer alguma coisa sobre as nossas obrigações morais.
O problema maior do argumento de Tolstoi é que obedecer a “não resistir ao mal” não é única forma que conduziria ao paraíso. Suponha-se que qualquer pessoa no mundo subscrevia o princípio “recorre à violência, mas sempre em auto-defesa”. Se todos recorressem à violência apenas em caso de auto-defesa, seguir-se-iam as mesmas consequências da aceitação universal da regra “nunca recorras à violência”. Em consequência, o pacifismo não pode considerado superior ao não-pacifismo por indicar as boas consequências que inegavelmente ocorreriam se todos fossem pacifistas.
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