quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Laurie Calhoun, "A Mensagem Tácita do Terrorismo" (Parte VI)

"A maioria das nações avançadas que têm exércitos permanentes produz e exporta os tipos de armas mortíferas usadas pelas facções nas acções terroristas. Se restringirmos o uso do termo “terrorista” àqueles grupos que utilizam uma violência mortífera “para além do razoável” para qualquer sistema legal estabelecido, segue-se que os terroristas obtêm as suas armas de instituições e indústrias militares mais formais (e legais). Tem-se verificado que é impossível controlar o tráfico de armas convencionais através do qual pilhas de armas são transferidas de regime para regime com o patrocínio de alguns governos para grupos pequenos com os quais se identificam politicamente. E mesmo quando escândalos como o Irão-Contra são descobertos, a responsabilização dos agentes culpados é quase sempre nominal. A indulgência relativamente aos militares e aos líderes políticos que se envolvem ou patrocinam o patriotismo através do comércio ilegal de armas, resulta da presunção básica da maior parte das pessoas, isto é, que eles e os seus companheiros são bons, enquanto que aqueles que com eles discordam são maus.
Nalguns casos, os terroristas desenvolvem armas inovadoras através do uso de materiais que em princípio não possuem qualquer aplicação militar, por exemplo, o ácido sulfúrico ou nitrato de amónio. Dada a possibilidade de os grupos terroristas recorrerem a formas de destruição inovadoras, parece que o apoio dos líderes nacionais à ideia de que matar seres humanos pode consistir num mandato da justiça é mais decisivamente instrumental para a perpetuação do terrorismo do que a exportação de armas mortíferas. As campanhas de bombardeamento ilustram graficamente a aprovação dos governos ao uso da força mortífera. É de facto fácil compreender o que deve ser o chavão comum entre os membros de grupos dissidentes que adoptam meios violentos: “Se eles podem fazê-lo, por que não nós?”
Os grupos políticos possuem uma agenda própria e alguns deles usam estrategicamente a violência para tentar alcançar os seus objectivos. Os terroristas não se situam, de um ponto de vista intelectual e moral, “para além do razoável”, uma vez que os seus actos são melhor entendidos através do apelo à mesma teoria da guerra justa que é invocada pelas nações na justificação das suas campanhas militares. Os terroristas interpretam as suas guerras como justas, ao mesmo tempo que culpabilizam todos aqueles que beneficiam das políticas dos governos de que discordam. Os grupos habitualmente reconhecidos como “terroristas” discordam dos governos não quanto à possibilidade de uma guerra justa ou quanto a possibilidade de se exagerar a importância da moralidade no caso da morte de pessoas inocentes. Os grupos terroristas e as instituições militares das nações concordam com o mesmo esquema da “guerra justa”, mas discordam acerca dos factos."

Sem comentários: