sábado, 4 de fevereiro de 2012

O que é uma ação?

«Com este ensaio pretendo responder ao problema acerca da consistência da Teoria Causal da Ação. O problema refere-se à necessidade de saber se efetivamente a TCA, de Donald Davidson e Elisabeth Anscombe, identifica as condições necessárias e suficientes para afirmar que determinado acontecimento é uma ação.
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Primeiro, apresentarei posições de Harry Frankfurt, Georg H. von Wright e do Modelo Deliberativo, que permitem sustentar a ideia de que a TCA falha em conseguir dizer por que razão determinado acontecimento é uma ação. Depois, concluirei que a Teoria Causal da Ação é inadequada para afirmar que determinado acontecimento é uma ação.
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A TCA é então inadequada e demasiado simplista para distinguir acontecimento de ação.
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Segundo a TCA, o que distingue acontecimento de ação, é o facto de nesta existir uma intenção, provocada por estados mentais e psicológicos como crenças e desejos e ainda ser possível a identificação de pelo menos uma descrição verdadeira, isto é, apenas uma descrição preferencial, na qual são reveladas a(s) crença(s) relevante(s) e o(s) desejo(s) que estiveram na origem da ação.
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Harry Frankfurt discorda desta teoria, porque defende que “uma ação é (…) um acontecimento complexo, que inclui um movimento corporal e o estado de coisas ou atividade que constitui a direção que o agente tem sobre esse movimento”. Para Frankfurt, definir ação como intencional, trata-se de um pleonasmo, pois uma ação implica uma intenção e uma intenção uma ação, logo a TCA define ação como ação ou intenção como intenção, sendo esta uma teoria demasiado vaga para explicar ação. Frankfurt defende ainda que para se estar perante uma ação, não é só necessária a existência de uma intenção ou de um par desejo-crença relevante, pois estes não são anteriores mas simultâneos à ação. Para se designar determinado acontecimento de ação, é necessária a existência de direção do movimento intencional atribuível diretamente ao agente e não a mecanismos ligados a este.
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Segundo Harry Frankfurt, “O comportamento tem propósito [,isto é, intenção,] quando o seu curso é objeto de ajustamentos que compensam os efeitos das forças que de outro modo interfeririam com o curso do comportamento.” Para o filósofo, ação é um movimento intencional que para além de apresentar intenção, está sob controlo e direção de um agente.
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Outra objeção à TCA é a de Georg H. von Wright. Este filósofo defende que “Para avaliar uma ação, é necessário antes de mais compreendê-la.” Para von Wright, saber se determinado acontecimento é uma ação, está muito além da identificação de uma descrição preferencial, que revele uma intenção de um agente.
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Segundo von Wright, existem razões internas de nível cognitivo (crença de que uma certa ação pode ser útil para alcançar um dado fim) e volitivo (relativas à vontade de realizar alguma coisa) e razões externas ao agente. As razões internas relacionam-se com a parte mental e psicológica do indivíduo e as razões externas com fatores que influenciam o mesmo. Estas razões são simultâneas numa ação e uma é indispensável à outra. Considera-se então, que a motivação de uma ação é complexa. Por detrás do agente e de uma descrição preferencial, existemmuitos outros fatores como comportamentos anteriores e ulteriores deste a serconsiderados, por exemplo, para a atribuição de uma responsabilidade moral ou simplesmente para poder designar determinado acontecimento de ação.
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Segundo Michael Smith, à luz do Modelo Deliberativo, a ação pode ser encarada de duas perspetivas bastante diferentes: ação intencional e ação deliberativa. A ação intencional é explicada partindo de estados mentais ou psicológicos; a ação deliberativa é explicada partindo da examinação racional, isto é deliberação, que originou dada ação.
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O Modelo Deliberativo pretende desvalorizar a TCA, pois defende que uma intenção não tem origem num par desejo-crença relevante, mas numa deliberação (análise racional de um acontecimento futuro). A intenção leva-nos à ação que não tem apenas uma componente interna (intenção) segundo a qual se atribui a responsabilidade moral, mas tem também adjacente uma componente externa, segundo a qual se atribui a responsabilidade material (o efeito da ação).
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Considero que as críticas à TCA são justificadas, porque de facto para haver uma ação não basta haver apenas motivações internas (par desejo-crença relevante) e uma descrição preferencial: na minha ótica, estas condições são necessárias mas não suficientes para determinar se um dado acontecimento é uma ação. Primeiro, há todo um conjunto de motivações externas que influenciam o agente no momento em que este realiza a ação, depois este tem de controlar e dirigir os seus movimentos para que lhe possamos atribuir a total responsabilidade sobre eles e, por último, deve avaliar as consequências da sua ação antes de a realizar, isto é deliberar e posteriormente intencionar a ação.
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Concluo que a TCA é insuficiente para definir uma ação e determinar em que contexto determinado acontecimento pode sê-lo.»
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MARTA MARQUES . 10º H
ESCOLA SECUNDÁRIA DE ADOLFO PORTELA